O que é a Dor?
Após 4 décadas e um processo de 2 anos de observação e análise, a IASP e uma equipa multidisciplinar, desenvolveram uma revisão da definição de Dor. Aperfeiçoada com base em diferentes inputs, incluindo pessoas com dor e seus cuidadores, esta revisão tem por objetivo “transmitir as nuances e a complexidade da dor e esperar que isso conduza a uma melhor avaliação e gestão das pessoas com dor”. Tal como referiu o Dr. Raja, Presidente da Equipa da IASP e Diretor de Investigação da Dor, Professor de Anestesiologia e Medicina em Cuidados Críticos, Professor de Neurologia na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
A redefinição de Dor apresentada é a seguinte:
"uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos", IASP - International Association for the Study of Pain
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A esta definição acrescentaram-se 6 pontos-chave e a origem etimológica da palavra Dor que lhe conferem ainda um contexto mais amplo e uma perspetiva mais enriquecedora. São eles:
- A Dor é sempre uma experiência pessoal que é influenciada em diferentes graus/níveis por factores biológicos, psicológicos e sociais.
- A Dor e a Nocicepção são fenómenos distintos. A Dor não pode ser inferida apenas pela atividade em neurônios sensoriais.
- O conceito de “dor” é algo que os indivíduos aprendem ao longo das suas experiências de vida.
- O relato de uma pessoa sobre uma experiência como sendo uma de Dor deve ser respeitado.
- Embora a Dor geralmente tenha um papel adaptativo, pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico.
- A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos possíveis para expressar a Dor; a incapacidade de comunicar não nega a possibilidade de que um ser humano ou um ser vivo não humano sinta dor.
Para mais informações: https://bit.ly/iaspdefinitionpain
Dor Aguda versus Dor Crónica
Dor aguda
A dor aguda é uma dor que, até certo ponto, tem consequências benéficas para o organismo. É um sinal de alarme que avisa da ocorrência de um traumatismo, uma queimadura, um derrame articular ou uma úlcera gástrica, por exemplo.
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Neste contexto, é um sintoma muito importante para o diagnóstico de várias doenças, sendo a principal causa de procura de cuidados de saúde pela população em geral. A importância da dor aguda está bem patente em doentes que padecem duma patologia rara, em que há uma deficiência congénita da sensibilidade dolorosa.
Estes indivíduos, que não sentem dor, têm uma esperança média de vida muito inferior a um indivíduo normal, precisamente porque lhes falta esse mecanismo sinalizador que a dor representa.
Embora a dor aguda seja útil em muitas circunstâncias, ela deve ser combatida por forma a não se perpetuar e a não se tornar eventualmente numa dor crónica. Além disso, existe um tipo de dor aguda que é provocada pela própria intervenção dos profissionais de saúde, por exemplo nos procedimentos de diagnóstico ou nas terapêuticas cirúrgicas, a chamada dor aguda pós-operatória. Neste caso, é fundamental controlar a dor, não só por razões éticas e para evitar o sofrimento desnecessário, como também para reduzir o risco de complicações pós-operatórias como as infecções respiratórias ou as tromboses venosas dos membros inferiores, e ao mesmo tempo reduzir o tempo de internamento dos doentes. O mesmo se aplica à dor associada ao trabalho de parto.
Dor crónica
A dor crónica é geralmente definida como uma dor persistente ou recorrente durante pelo menos 3-6 meses, que muitas vezes persiste para além da cura da lesão que lhe deu origem, ou que existe sem lesão aparente.
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A dor crónica não tem qualquer vantagem para o doente, pelo contrário, para além do sofrimento que causa, tem repercussões na saúde física e mental do indivíduo, levando por exemplo a alterações do sistema imunitário com uma consequente diminuição das defesas do organismo e aumento da susceptibilidade às infecções.
No campo da saúde mental, a dor crónica provoca frequentemente insónias, ansiedade, depressão, podendo mesmo levar ao suicídio. Há pois uma tendência actualmente para encarar a dor crónica não como um mero sintoma mas, muitas vezes, como uma doença por si só, com enormes repercussões sobre o indivíduo e a sociedade pelo sofrimento e custos sócio-económicos que lhe estão associados.
Como tratar a Dor?
O tratamento da dor deve ser feito fundamentalmente nos cuidados de saúde primários, ou seja, através dos médicos de família.
Estes profissionais de saúde estão habilitados a diagnosticar e tratar a grande maioria das patologias dolorosas (a título de exemplo, todos os estudos epidemiológicos indicam que a dor crónica mais frequente é a lombalgia ou seja as vulgares dores de costas), dispondo para o efeito de um vasto leque de opções terapêuticas, que vão desde os medicamentos analgésicos anti-inflamatórios não esteróides, como a aspirina, até aos opióides fortes como a morfina, ou outro tipo de tratamentos como a fisioterapia e outras terapêuticas complementares.
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Contudo, existem alguns casos de dor em que, devido à complexidade do seu diagnóstico e/ou à necessidade de se instituirem terapêuticas mais diferenciadas, é necessário referenciar os doentes para serviços de saúde especializadas no diagnóstico e tratamento da dor, habitualmente designadas por Unidades de Dor. Saiba onde pode encontrar unidades de dor em Portugal e, os profissionais de saúde responsáveis pelas mesmas, através do Atlas da Dor.
Tão ou mais importante que o tratamento da dor é a prevenção da dor crónica, através por exemplo do tratamento adequado da dor aguda ou evitando os factores de risco associados às lombalgias que, como acima referido, são a principal causa de dor crónica.
A Dor como 5.º Sinal Vital
Coincidindo com a comemoração do 5º Dia Nacional de Luta Contra a Dor, a Direcção Geral de Saúde publicou, no dia 14 de Junho de 2003, uma circular normativa que institui a “Dor como 5º Sinal Vital”. Sendo o resultado de uma proposta da Comissão de Acompanhamento do Plano Nacional de luta Contra a Dor, e uma aspiração antiga da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, a equiparação da dor a 5º sinal vital significa, concretamente, que se considera como boa prática clínica, em todos os serviços prestadores de cuidados de saúde, a avaliação e registo regular da intensidade da dor, à semelhança do que já acontece há muitos anos para os 4 sinais vitais, nomeadamente a frequência respiratória, frequência cardiaca, pressão arterial e temperatura corporal.
A circular normativa, refere ainda as escalas que deverão ser utilizadas na avaliação da intensidade da dor, dando algumas instruções básicas sobre a sua utilização. A obrigatoriedade da avaliação e registo da dor tem uma enorme importância, dado que, sobretudo por motivos culturais, a dor é ainda inúmeras vezes subestimada, escondida, negada e, consequentemente, negligenciada, tanto pelos doentes como pelos profissionais de saúde.
Por outro lado, tornando a dor visível não é possível ignorá-la, sendo imperioso estabelecer uma estratégia terapêutica adequada ao seu controlo, o que vai contribuir decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos doentes e reduzir a morbilidade, nomeadamente no que se refere à dor aguda pós-operatória cujo controlo é um dever ético dos profissionais de saúde, um direito dos doentes e uma condição indispensável à necessária humanização das unidades de saúde do País.