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Dor (2018) 26
O tratamento da enxaqueca envolve a tera- pêutica de controlo da crise e, em situações específicas, poderá exigir tratamento profilático para diminuição do número e/ou da intensida- de das crises5,6,8,9. Para controlo da crise é essencial o controlo da dor e dos sintomas associados, nomeadamente das náuseas e dos vómitos8,10. A via oral é a via de administração de primeira linha mas, quando ineficaz ou in- disponível, a via endovenosa deve ser uma al- ternativa a considerar8,10. Para o controlo da dor, de acordo com as guidelines mais recen- tes, os grupos de medicamentos mais usados devem ser os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) e o paracetamol11-16. O cetorolac repre- senta uma alternativa quando é necessária ad- ministração por via endovenosa13. O sumatrip- tano nasal, agonista dos recetores 5HT1B e 5HT1D, e a cafeína estão aprovados acima dos 12 anos na terapêutica da enxaqueca grave ou que não cede ao tratamento com paracetamol e AINE13.
O controlo dos sintomas associados (náuseas/ vómitos) com fármacos antieméticos constitui uma parcela importante do tratamento5. A meto- clopramida associa à sua ação antiemética um efeito antimigranoso que a torna um fármaco sinérgico aos AINE e ao paracetamol5,10,18. Os seus potenciais efeitos extrapiramidais devem ser vigiados10. O ondansetron, apesar de não estar formalmente indicado nos vómitos associa- dos a cefaleia primária, devido ao seu efeito antiemético, tem sido usado com bons resul- tados10.
Os estudos existentes sobre o tratamento da enxaqueca na urgência pediátrica (UPed) são insuficientes6,18. De acordo com a revisão da Chrochrane de 2016, o início precoce de medi- cação, a utilização de outros AINE e a combina- ção destes analgésicos com outra medicação (por exemplo, metoclopramida, cafeína) não apresentou evidência em idade pediátrica15. Contudo, as metanálises em adultos e estudos em Pediatria têm vindo a mostrar a vantagem da instituição precoce da terapêutica analgésica e
10,18
da combinação destes fármacos . São ne-
cessários estudos controlados e aleatorizados para aumentar a evidência científica que supor-
Métodos
Realizou-se um estudo descritivo e retrospeti- vo das crianças e adolescentes admitidos por cefaleia, como queixa principal, na UPed de um hospital nível 3, ao longo de um período de três meses.
Procedeu-se à elaboração de uma folha de registo própria, entregue na triagem, para o re- gisto dos números dos processos dos doentes admitidos por cefaleia. Posteriormente, através da consulta do processo clínico, foram avaliados dados demográficos (idade e sexo), clínicos, exames complementares de diagnóstico realiza- dos e respetivo resultado, terapêutica realizada em ambulatório e na Uped e evolução ao longo dos seis meses subsequentes (recorrência à UPed e orientação para consulta da subespe- cialidade). Para complementar os dados e a evolução clínica de cada doente foi efetuada entrevista telefónica. O diagnóstico de cefaleia foi realizado de acordo com os critérios da In- ternational Classification of Headache Disorders (ICHD-3)7. A análise estatística descritiva foi rea- lizada utilizando o programa Excel®.
Resultados
Durante o período do estudo, foram admitidas na UPed 10.635 crianças/adolescentes. A cefa- leia foi o motivo de consulta em 153 (1,4%) dos episódios de urgência.
Relativamente aos dados demográficos: 63 (41%) pertencem ao género masculino; a media- na da idade na admissão foi de 10 anos (2- 17 anos), com a seguinte distribuição por faixas etárias: 28 (18,3%) em idade pré-escolar, 64 (40,8%) em idade escolar e 61 (39,9%) adoles- centes.
Cefaleias secundárias
Em 85 (56%) crianças/adolescentes, a queixa de cefaleia foi secundária a um processo infe- cioso, inflamatório ou traumático (os diagnósti- cos atribuídos na alta hospitalar estão descritos na tabela 1).
Foram realizadas TC-CE em sete (8,2%) crian- ças/adolescentes: cinco (5,8%) no contexto de traumatismo craniano e um (1,2%) por suspeita de disfunção de sistema de derivação ventrícu- lo-peritoneal (SDVP) numa criança com diagnós- tico prévio de mielomeningocelo. Nesta foi iden- tificada hidrocefalia ativa. Uma outra criança apresentava uma sinusopatia. Não foi identifica- da nenhuma outra causa de cefaleia que neces- sitasse de tratamento emergente ou urgente, nomeadamente tumor, hemorragia ou infeção do sistema nervoso central.
Cefaleias primárias
Este diagnóstico foi atribuído a 68 (44%) crian- ças/adolescentes no momento da alta. Após re- visão dos processos clínicos e realização de
te a maioria das guidelines existentes experiência prática e de estudos similares veri- fica-se que os pediatras, na UPed, são treinados para excluir causas secundárias de cefaleia como infeções do sistema nervoso central, neo-
3,4
plasias e hemorragias . No entanto, quando
excluídas estas causas, o tratamento da dor é frequentemente protelado ou tende a ser insufi- ciente3,4. O objetivo deste estudo foi caraterizar a abordagem diagnóstica e terapêutica da cefa- leia primária por pediatras num serviço de ur- gência hospitalar. Os autores propõem-se a oti- mizar esta abordagem em função dos resultados
10 obtidos.
12,19
. Da
DOR