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Dor (2018) 26
 Tabela 1. Capsaícina tópica na dor crónica pós-mastectomia
 Formulação Posologia 1.o autor (ano) – Amostra total Evidência Efeitos tipo de estudo no tratamento adversos
de SDPM
 Capsaícina 0,025% creme
Capsaícina 0,075% creme vs. creme placebo
Capsaícina 0,025% creme
4 aplicações diárias por
4 semanas
4 aplicações diárias por
6 semanas
3 aplicações diárias por
2 meses
Watson C. (1989) – ensaio clínico
Watson C. (1992) – estudo aleatorizado controlado
Dini D. (1993) – ensaio clínico
18
(4 não completaram tratamento –
2 recusaram; 1 rash; 1 recorrência da neoplasia)
25
(13 capsaícina vs. 10 placebo; 2 não completaram tratamento –
1 sensação de queimadura;
1 recorrência da neoplasia)
21
(2 recusaram)
12 doentes com melhoria superior a 50%
Aos 6 meses: 6 dos 12 mantinham melhorias
8 dos 13 doentes tratados com capsaícina com melhoria superior a 50% vs. 1 doente tratado com creme placebo (p < 0,05)
13 doentes com melhoria superior a > 50% (11 com bons resultados após 3 meses da aplicação)
Rash cutâneo Sensação de
queimadura
Sensação de queimadura
Sensação de queimadura (ligeira)
 SDPM: síndrome dolorosa pós-mastectomia.
Medidas terapêuticas
O tratamento da dor neuropática é complexo, existindo diversas alternativas terapêuticas com diferentes eficácias2. Tal como descrito relativa- mente aos fatores de risco, também relativamen- te ao tratamento da SCPM a heterogeneidade dos estudos realizados é apontada como fator condicionante na avaliação dos resultados. Ain- da assim, a maioria dos estudos efetuados apre- senta soluções terapêuticas eficazes, comprova- das com significância estatística7. Algumas das opções terapêuticas apontadas são: a amitripti- lina e a venlafaxina, a gabapentina, a utilização perioperatória de lidocaína endovenosa, a reali- zação de bloqueio anestésico paravertebral, a aplicação tópica de capsaícina e o recurso a enxerto autólogo de tecido adiposo4,7-9. Con- tudo, são necessários mais estudos7, visando assim colmatar algumas das limitações encon- tradas nos estudos atualmente disponíveis, me- lhorando assim a evidência científica aplicada ao tratamento da SCPM7.
Capsaícina tópica na dor neuropática
Capsaícina, um agonista do canal recetor de potencial transiente vaniloide do tipo 1 (TRPV-1), apresenta propriedades analgésicas, descritas desde 1850, tendo eficácia comprovada para tratamento de diversas síndromes de dor cróni- ca, incluindo a dor pós-herpética, a neuropatia diabética e a dor neuropática pós cirúrgica10,11.
A capsaícina ativa os canais catiónicos de- pendentes do ligante TRPV-1 nas fibras nervosas 28 nociceptivas, causando a sua despolarização,
iniciando um potencial de ação e a transmissão de sinais de dor para a medula espinhal. Após a exposição à capsaícina, os axónios sensoriais contendo TRPV-1 são dessensibilizados, o que inibe o início da transmissão da dor11.
A capsaícina pode ser utilizada em formula- ções de baixa concentração (< 1%) e de alta concentração (8%). A publicação da revisão Cochrane de 2012 concluiu que a evidência da utilização de formulações tópicas de capsaícina de baixa concentração para tratamento de dor neuropática é baixa, tendo eficácia semelhante ao placebo, constatando a grande heterogenei- dade dos estudos existentes. Apontou ainda a irritação local da pele como fator de desconti- nuação do tratamento12. Em 2013, foi publicada uma revisão Cochrane sobre a utilização da capsaícina em formulações de alta concentra- ção, 8%, para tratamento da dor neuropática. Os autores concluíram que a sua aplicação deve ser realizada em ambiente controlado em clínica ou hospital, sob anestesia local, pela possibilidade de dor e queimadura local da pele. A revisão incluiu seis estudos, quatro na dor neuropática pós-herpética e dois na neuro- patia por VIH. A eficácia do tratamento foi supe- rior ao placebo, sendo esperado que a aplica- ção única produza alívio por três meses. Nada se concluiu sobre a eficácia da repetição dos tratamentos. Também referiram reações cutâ- neas como efeitos adversos da sua utilização. Pelo custo associado, os autores defendem que a sua utilização se deve restringir aos casos onde outras terapêuticas disponíveis não obti- verem sucesso, não devendo ser continuada
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