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descrito, pela abordagem na face profunda do EE, injetando o AL entre o músculo e a apófise transversa de T5, sem dificuldades ou complica- ções e com sucesso, o que aparentemente re- força o mecanismo de dispersão e ação descri- to no artigo original (Figs. 1-3).
A nossa experiência confirma a facilidade de execução técnica e segurança deste bloqueio, não só por ser ecoguiado, mas também pela não envolvência de grandes vasos ou outras estru- turas nobres na região de intervenção – fatores muito aliciantes em qualquer intervenção,
No entanto, a larga abrangência da cobertura sensitiva deste bloqueio a praticamente todo o hemitórax, algo que também se verificou no nos- so caso, para além de ser um fator muito posi- tivo e útil, pode representar alguns inconvenien- tes consoante o contexto da sua aplicação.
Reconhecemos que, principalmente em con- textos de dor aguda torácica, este bloqueio po- derá ser uma abordagem importantíssima, prin- cipalmente em doentes com comorbilidades, que dificultem ou contraindiquem a abordagem ao neuroeixo, servindo, por exemplo, como téc- nica anestésica combinada na cirurgia torácica4 ou em situações de trauma torácico multinível5.
No entanto, em contexto de dor crónica, as desvantagens são: a relativa curta duração em termos de alívio do quadro álgico, inconveniente comum à maioria dos bloqueios periféricos que obriga a repetição frequente da técnica, situa- ção que poderá ser ultrapassada com a coloca- ção de cateteres6; na área do diagnóstico, em que os bloqueios de nervos periféricos podem ser, de facto, muito úteis, a utilização do BEEE poderá ter uso limitado, devido ao seu demasia- do largo espetro de abrangência sensitiva, dimi- nuindo assim a sua especificidade, desvanta- gem para a qual não conseguimos ver solução ou alternativa. Outra potencial desvantagem será a possível dispersão medial do fármaco para o espaço epidural e consequente alteração hemodinâmica prevista nesta situação.
No nosso caso, o sucesso imediato do blo- queio, bem como a relativa longa duração do seu efeito, para este tipo de técnica, nomeadamente com melhoria significativa da dor e possibilitando uma redução da farmacologia de base durante um mês, parece mostrar que se trata de uma abordagem pertinente para o controlo da dor neste tipo de doentes, com patologia que envol- va queixas de dor dorsal e eventualmente do tórax anterior, principalmente se houver possibi- lidade de colocação de cateteres, com associa- ção de fármacos adjuvantes para a dor neuropá- tica, diminuindo possivelmente a necessidade ou a frequência da repetição desta técnica.
O BEEE parece tratar-se de um bloqueio que oferece analgesia a uma vasta área sensitiva, em praticamente todo o tórax, o que faz com que pos- sa ser uma estratégia muito versátil para diferentes situações, nomeadamente em contexto de queixas álgicas de difícil controlo, onde o foco de dor seja
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Figura 1. Esquema ilustrativo das referências do BEEE no dorso da paciente. AE: apófise espinhosa T5; SEL: sonda ecográfica linear; PEA: ponto de entrada da agulha; Seta: direção da agulha cefálica caudal in-plane.
Figura 2. Imagem ecográfica pretendida.TZ: músculo trapézio; RM: músculo romboide maior; EE: músculo eretor da espinha; AT: apófise transversa T5; Setas brancas: agulha.
Figura 3. Dispersão do anestésico local. AL: anestésico local.
26 disperso com localização torácica multinível.
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