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Dor (2018) 26
recursos hospitalares, pelo absentismo e dimi- nuição da produtividade laboral6.
Material e métodos
álgico. Foi agendada consulta de reavaliação, a 29.03.2018, ponderando-se aplicação de adesi- vo de capsaícina a 8% em meio hospitalar caso persistissem as queixas álgicas.
Definição
A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) define a DPPO como dor persistente com mais de três meses de duração, após ex- clusão de outras causas de dor1.
Em 2014, surge na literatura uma nova defini- ção de DPPO com critérios mais extensos e abrangentes. Assim passou a considerar-se a DPPO como a dor: a) que surge após um pro- cedimento cirúrgico ou que aumenta de intensi- dade após um procedimento cirúrgico; b) que tem uma duração de, pelo menos, três a seis meses e tem impacto na qualidade de vida do doente; c) que persiste após uma DAPO ou que surge após um período sem dor; d) localizada no local cirúrgico, no território de inervação do local cirúrgico ou no dermátomo referido, e e) fo- ram excluídas outras causas de dor7.
A incidência de dor persistente após hernio- plastia inguinal (DPPHI) refere-se à DPPO após hernioplastia inguinal por via aberta ou laparos- cópica.
Incidência
A DPPHI por via aberta é de 18% (variando segundo estudos entre 0,7 e 75%), sendo que após hernioplastia inguinal laparoscópica a inci- dência desce para os 6% (variação entre 1 e 16%). A variabilidade das incidências reflete a ausência de uniformidade de critérios de defini- ção e de avaliação de DPPO nos diferentes es- tudos analisados. A DPPHI com impacto na qua- lidade de vida tem uma incidência entre 10 e 12%, sendo que se a dor for severa e condicio- nar as atividades de vida diária e a atividade
8-10 laboral, a incidência é de 0,5 a 6% .
Mecanismos da dor
Os mecanismos da DPPHI são divididos con- siderando a existência ou a ausência de lesão nervosa.
A lesão nervosa direta surge na abordagem cirúrgica anterior por via aberta. Os nervos ilioin- guinail e o ramo genital do nervo genitofemoral, e o nervo ilio-hipogástrico são lesados numa percentagem de 96, 90 e 94% respetivamente11.
A lesão nervosa pode surgir por compressão pelo material cirúrgico (próteses, agrafos, sutu- ras), formação de tecido cicatricial ou inflamató- rio peri-incisional ou por complicações pós-ope- ratórias como infeção, hematoma ou inflamação10.
A dor neuropática que pode surgir após lesão nervosa é descrita como queimadura, formiguei- ro, pressão ou picada, que agrava com a mar- cha e a posição sentada10. A irradiação para a linha média acima do púbis e externamente para
Descrição de caso clínico. Revisão sistemáti- ca da literatura nos motores de busca PubMed, Medline, Embase e Cochrane Database com as palavras-chave: «persistent postoperative pain» e «chronic postoperative pain after inguinal her- nia repair». Foram apenas incluídos artigos em língua inglesa.
Caso clínico
Jovem, sexo masculino, 24 anos, longilíneo, com diagnóstico de hérnia inguinal à direita e hidrocelo à esquerda, submetido a hernioplastia inguinal indireta com colocação de prótese à direita e excisão de hidrocelo à esquerda em 09.12.2014, sob anestesia geral balanceada, em regime de ambulatório. Na reavaliação em consulta de Cirurgia, no dia 19.01.2015, referiu DPPO, no local da incisão cirúrgica à direita, com caraterísticas neuropáticas. Não apresenta- va recidiva herniária, pelo que foi medicado pelo cirurgião com pregabalina 50 mg/dia. Na con- sulta seguinte, um mês depois, foi constatada melhoria do quadro álgico com a terapêutica anticonvulsivante, e cinco meses depois o doen- te encontrava-se assintomático, tendo tido alta da consulta de Cirurgia.
Em 03.01.2017 foi submetido a apendicecto- mia por via laparoscópica, por apendicite aguda supurada, sob anestesia geral balanceada, no contexto de urgência. No pós-operatório imedia- to referiu dor na fossa ilíaca direita, de elevada intensidade, tendo sido excluídas recidiva her- niária e complicações pós-operatórias. À data da alta para o domicílio mantinha queixas álgi- cas, estando medicado com paracetamol 100 mg, per os, se dor, até quatro vezes por dia. Foi reavaliado a 30.01.2017 em consulta, mantendo queixas de dor intensa no local de incisão cirúr- gica da hernioplastia, apesar da medicação re- ferida, pelo que foi reintroduzida a pregabalina. Realizou ecografia das partes moles e tomogra- fia computorizada (TC) da bacia, em ambulató- rio, não apresentando sinais imagiológicos de recidiva herniária ou outras complicações cirúr- gicas.
Foi solicitado parecer de Anestesiologia no dia 29.01.2018 por dor intensa. À observação ainda nesse dia, o doente apresentava dor de grau 8 na escala numérica da dor, localizada na fossa ilíaca direita, associada a parestesias, sensação de choque elétrico, hiperestesia e alodinia numa área de 3 cm pericicatricial, que agravava com o movimento e ortotastismo e aliviava com de- cúbito dorsal. A dor impossibilitava a prática de exercício físico e a atividade laboral. Foi pres- crito a aplicação local de capsaícina creme 0,25 mg/g, três vezes por dia, durante um mês,
20 após o qual houve melhoria ligeira do quadro
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