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Dor (2018) 26
  Editorial
Sílvia Vaz Serra
Olá.
Este volume inicia-se com a conferência inaugural proferida pelo Dr. Luís Portela,
aquando da sua despedida do Instituto Português de Oncologia de Lisboa. Perguntar-se-ão acerca do motivo de incluir uma palestra, de certo modo pessoal e datada, num volume científico de âm- bito nacional. As suas palavras são um testemu- nho, na primeira pessoa, do percurso da dor no mundo e em Portugal. No seu texto, apaixonado, está vertida a homenagem a todos os profissio- nais que trabalharam em Dor. Extravasa a mera nomeação de uns, fala o sentir de muitos outros e lança mensagens de desafio. Não é somente o relato de um homem agradecido, do profissional de excelência mas, sim, a voz, uníssona, de mui- tos outros profissionais de mérito que todos os dias dão o melhor de si.
No texto seguinte, os autores relatam mais uma opção anestésica e analgésica: o bloqueio do nervo supraorbitário. Demonstram a sua grande mais-valia e o seu lugar nas opções terapêuticas. Nunca serão demais, como bem sabemos.
A dor crónica é um desafio constante para os profissionais de saúde. Na procura de novas pos- sibilidades terapêuticas da dor crónica e da dor psíquica associada, os autores abordam um ins- trumento psicoterapêutico inovador que se tem demonstrado muito eficaz. Baseia-se na articula- ção do psicodrama com a musicoterapia. E mais não digo. Vai ter de ler...
O autor começa com a frase: “Talvez as metá- foras sejam das poucas formas a que temos aces- so para dizermos o indizível.’ Se não temos quem nos ajude a criar imagens ou histórias em que caibam a dor e o medo, que acompanham as experiências particularmente penosas e indizíveis, corremos o risco de nos tornarmos colecionado- res solitários de vivências dolorosas sem abrigo, diz o autor. E prossegue, fazendo um percurso por esta função geradora de metáforas, centran- do-se principalmente na relação com as imagens e em particular com as imagens fotográficas. Sur- preendente!
É mundialmente reconhecido o papel funda- mental dos opioides no tratamento da dor. Recen- temente têm sido publicados vários artigos cien- tíficos que sustentam a existência de hiperalgesia associada a estes fármacos. Estes afirmam que a hiperalgesia induzida pelos opioides é um fator relevante na falência da terapêutica da dor. Os autores fazem uma exaustiva revisão, deixando
vários alertas. É importante fazer-se uma leitura atenta e detalhada.
Seguem-se os posters premiados na XVI Reu- nião Iberoamericana de Dor e VI Congresso da APED, que se realizou em outubro de 2018 em Lisboa, porque é importante dar nota, mesmo que breve, do que se faz bem!
Mas este volume é o último, o derradeiro volu- me em suporte de papel. Termina aqui, encerra-se um ciclo, uma história de uns longos, curtos anos. O tempo, esse que nunca foi meu amigo, corre rápido, surpreende-nos... O ontem, que foi hoje e será amanhã – a voragem do tempo. Mas o que é tempo senão uma ilusão de momentos, uma soma de instantes, fugazes como a vida. E ando às voltas, qual avião cruzando os céus em círcu- los, largos, aguardando a sua vez para aterrar! Esta dificuldade em vos dizer adeus, por agora... Foram muitos anos, não sei dizer quantos (nunca fui boa nestas contas) mas esse pormenor não é relevante, penso. Tenho de agradecer, muito, a quem me lançou o primeiro desafio como editora da nossa revista, a quem de seguida me empur- rou para a direção e aos sucessivos presidentes que me foram “renovando o mandato”. Obrigado. E a todos com quem tive a honra de trabalhar. A todos peço que relevem o que terá corrido menos bem. Aprendi bastante, cresci muito. Esti- ve de corpo e alma mas fica sempre a sensação de que muito mais poderia ter sido feito, de uma outra forma talvez... A sensação do inacabado. Mas a vida é assim, sem perfeições ou termina- ções. É um continuum de acrescentos, comple- mentos, aprendizagens e mudanças. Chegamos ao final desta viagem. Esta etapa terminou. Está criado o momento de abraçar um novo desafio, um novo caminho.
O futuro está aí, desafiante para todos.
“De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre a começar A certeza de que é preciso continuar
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar. Por isso devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo Da queda, um passo de dança
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro.”
Depois de Tudo, Fernando Sabino
Até sempre.
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DOR









































































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