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para outros estímulos ou atividades, como me- mória, o julgamento ou a capacidade para resol- ver problemas.
Técnicas que envolvam distração são impor- tantes na gestão da tolerância e controlo da DC pela razão de que os processos de atenção entram em competição com outros estímulos. E, por outro lado, a importância da ampliação de competências de abstração, de flexibilidade adaptativa e de simbolização leva à metaboliza- ção e desintoxicação das ansiedades intolerá- veis.
É transversal a todos os modelos psicotera- pêuticos a construção de uma aliança terapêu- tica promotora de participação da pessoa, trans- formando a passividade, as estratégias de evitamento em autonomia ativa, e um saber am- pliado sobre si próprio e sobre a reconstrução da sua identidade.
Intervenção integrada de psicodrama e musicoterapia
“O psicodrama é a ciência que explora a ver- dade mediante os métodos dramáticos”3.
Desde a Antiguidade, os grandes jogos públi- cos tinham forte importância sociopsicológica. Tanto na dimensão privada como coletiva. Por exemplo, durante o tempo dos jogos não havia execuções nem guerras. Surge, neste ritual so- cial, o sentimento cívico. Os Jogos Olímpicos são a sua melhor expressão que, à época, eram consagrados a Zeus4.
O jogo aparece como um verdadeiro ritual so- cial que exprime, através da ordem simbólica, um objetivo comum, a unidade grupal e a cons- trução de vínculos humanos: o sentido de per- tença.
A atividade lúdica do brincar e do jogar não se confina ao puro divertimento, mas à vivência de conflitos interpessoais e intrapessoais, bem como à expansão dos conteúdos psíquicos hu- manos.
Jacob Levi Moreno, fundador do psicodrama, nasceu em maio de 1889, em Bucareste, foi educado em Viena, onde realizou os seus estu- dos de medicina e filosofia, em 1917. Ensinou na Universidade de New York de 1936 a 1968. Morreu aos 84 anos5. E, por seu desejo, foi es- crito na sua lápide: “Aqui jaz o homem que abriu as portas da psiquiatria para a alegria”5.
Durante o tempo de estudante, interessou-se particularmente pelo teatro e a sua aplicação nas dimensões social e clínica. Criou a conce- ção do teatro da espontaneidade. Neste modelo de teatro, a ênfase não é colocada na perfeição da arte de representar, mas no estar genuina- mente presente-no-momento-da-criação. O epi- centro é a dramatização da cena da vida.
Nos teatros de grupo, a espontaneidade é a regra de ouro. Por um lado, esta tem uma função plástica, potenciando uma capacidade de adap- tação a um mundo em mudança. Por outro lado,
a função da espontaneidade promove o desen- volvimento psíquico, desbloqueando os conflitos internos, as emoções reprimidas e o incom- preensível.
Quatro elementos são estruturantes no psico- drama: espontaneidade, criatividade, catarse e a história contada contemplada pela teoria dos papéis.
Para Moreno, o psicodrama promovia o eu total, como uma integração dinâmica entre o corpo, a psique e a sociedade.
Na estrutura básica do psicodrama, Moreno descreveu cinco instrumentos (cenário, protago- nista, auditório, diretor e ego-auxiliar), três eta- pas (aquecimento, dramatização e comentários finais realizados pelo grupo e, na sua conclusão, pela equipa terapêutica) e três contextos (social, grupal e dramático)6.
Existem várias técnicas para a exploração da verdade psíquica, no contexto da dramatização. Por exemplo: o solilóquio, onde a pessoa ex- pressa a média voz os pensamentos e os senti- mentos mais secretos, até então, ocultados; a inversão de papéis, onde se coloca no lugar do outro, ampliando a perspetiva e o autoconheci- mento através do outro; a técnica do espelho, permite que o sujeito seja refletido pelo ego- -auxiliar, sobre diversas situações de vida, aspe- tos da sua personalidade e padrões de ação, por exemplo7.
A dinâmica psicodramática sublinha o trata- mento individual feito em grupo, sublinha que não existem mentes sozinhas. Existem mentes emocionadas e vinculativas, existem mentes so- ciais. A realidade da pessoa que sofre de DC manifesta, como principais emergentes no psi- codrama, o eu-corporal doloroso, a DC como uma relação específica e as inter-relações da pessoa com o mundo. Este modelo pretende reconstruir a integração vinculativa entre o cor- po, a psique e a sociedade.
Observamos que o paciente comunica, predo- minantemente, com o corpo pautado pelo ritmo da dor e o seu impacto nos vários vínculos e papéis de vida. A dor parece criar vazios e, paradoxalmente, preenchê-los.
Tendencialmente, a pessoa com DC encontra- -se regredida, com queixas depressivas e ansio- sas, associadas ao isolamento sócio-afetivo, eventuais relações conflituais com possível transferência emocional para a equipa terapêu- tica.
Através da intervenção do psicodrama e mu- sicoterapia, que se desenvolve na ação psico- dramática e na interação com os elementos dos grupos, a pessoa terá a oportunidade de ex- pressar e consciencializar, através dos mo- vimentos criativos e espontâneos (do som à corporalidade), os elementos emocionais, cog- nitivos, relacionais e sociais associados e reati- vados pela dor.
A tolerância à dor e a motivação para a mu-
dança aumentam, através do resgate da espon- 15
C. Catana, et al.: Articulação do Psicodrama com a Musicoterapia na Intervenção da Dor Crónica
DOR











































































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