Page 4 - APED 2018 N2
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Dor (2018) 26
  Editorial
Sílvia Vaz Serra
Olá.
“Uma cidade
Uma muralha Uma ponte Uma cidade Um menino A mulher E a muralha
Que se refaz no desfazer E um punhal
Um poema de guerra e de granito
Da torre Da muralha Das gaivotas
E das coisas que não eram de granito Da Sé casa de Deus Do rio ainda Visto das varandas mais remotas
(Hoje. Ontem. Mais que ontem. Anteontem. Ontem. Hoje... Quase amanhã)”1
É inequívoco que a terapia farmacológica se tem revelado insuficiente em muitas situações de dor crónica, para além de estar associada a efeitos laterais. Em Portugal, a acupuntura foi reconhecida, em 2002, como Competência pela Ordem dos Médicos. Com base nestas evidên- cias, um grupo de colegas elaborou um estudo prospetivo tendo como objetivo avaliar o efeito da acupuntura, a curto e médio prazo, na inten- sidade da dor, estado funcional e impacto na qualidade de vida dos doentes. Foram analisa- dos 32 doentes com dor musculoesquelética ou neuropática, seguidos na Unidade de Dor Cró- nica do Centro Hospitalar do Porto. O estudo sugere que a acupuntura tem efeitos positivos no controlo da intensidade da dor crónica, no estado funcional e na qualidade de vida dos doentes. Os autores realçam as dificuldades ine- rentes à conceção de estudos para avaliação da eficácia da acupuntura no controlo da dor, assi- nalando a necessidade de estabelecer, com ri- gor, critérios de seleção dos participantes, tipo de patologia a tratar e instrumentos de medição a usar, bem como decidir a inclusão e o tipo de grupo de controlo. Mais uma excelente terapêu- tica complementar.
“Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda.”1
O artigo que se segue aborda um tema recor- rente e, também por isso mesmo, de importância inquestionável. A síndrome de cirurgia de coluna falhada (SCCF) é uma entidade frequente, res- ponsável por muitas queixas álgicas dorsais e lombares nos doentes que sofrem de dor cróni- ca. As vantagens e benefícios da intervenção nestes doentes, com bloqueios de nervos peri- féricos ecoguiados, é pouco clara pela escassez de dados ou até de opções disponíveis. Neste artigo, os autores, a partir de um caso clínico, relatam a execução de uma técnica inovadora – bloqueio ecoguiado do eretor da espinha (BEEE) –, com sucesso analgésico e ganho te- rapêutico, sem intercorrências ou complicações associadas. Vai querer saber mais.
“....Hoje és um dia que começa outra vez Como se hoje pudesses plantar o dia que não acaba
Um animal que come a sombra diurna daquilo que é pensado...”1
A dor crónica pós-operatória é uma possível complicação de qualquer procedimento cirúrgi- co, que condiciona marcada diminuição da qua- lidade de vida dos doentes. A capsaicina 8% aplicada em sistema transdérmico apresenta ampla evidência científica no tratamento de vá- rias situações álgicas de natureza neuropática (nevralgia pós-herpética, neuropatia diabética e neuropatia associada ao HIV), escasseando, no entanto, quanto à sua eficácia no tratamento de outras condições de dor neuropática, nomeada- mente a pós-cirúrgica. Os autores apresentam o caso clínico de uma doente com quadro de dor crónica pós-operatória grave (após corporecto- mia de T10 e a artrodese de T9-T10 devido a fratura vertebral osteoporótica), com reduzido controlo farmacológico. Após instituição de tra- tamento adicional com capsaicina 8%, os auto- res verificaram diminuição marcada da área do- lorosa e de alodinia, o que se traduziu num marcado aumento da qualidade de vida da doente – objetivo último do tratamento da dor. A reter.
“......Homens que são como lugares mal situados Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
3
DOR










































































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