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lise de proteínas associadas à membrana, inibin- do a libertação de acetilcolina na junção neuro- muscular12,13. Vários estudos têm realçado um potencial efeito antinocicetivo da BoNT-A, tendo sido propostos vários mecanismos de ação, no- meadamente, bloqueio de neurotransmissores nas vias não colinérgicas, efeitos autonómicos, nos fusos neuromusculares e por influência so- bre a plasticidade do sistema nervoso central13. A dor na OA envolve mecanismos nociceptivos e neuropáticos complexos, assim como excita- bilidade anormal em vias de dor periféricas e centrais14,15, o que levou a que fosse sugerida uma atuação da BoNT-A na supressão da secre- ção de neurotransmissores, resultando desta forma numa diminuição direta da sensibilização periférica e uma redução indireta da sensibiliza- ção central16. A BoNT-A teria também um papel inibitório na libertação de mediadores envolvi- dos na nocicepção, nomeadamente a substân- cia P, calcitonina, peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP) e glutamato17. A evidência relacionada com a utilização da BoNT-A IA no tratamento da dor em humanos é escassa, contudo, a literatura sugere um papel na dor refratária da OA do joelho18. O objetivo deste artigo é averiguar a eficácia e segurança da BoNT-A IA no tratamento da dor crónica re- lacionada com a OA do joelho, nomeadamente na diminuição da dor, aumento da funcionalida- de e a ausência de efeitos laterais, usando fer- ramentas de medição validadas.
Material e métodos
Seleção de doentes
Foram recrutados 52 doentes com diagnóstico de OA do joelho da consulta externa de um Serviço de Medicina Física e de Reabilitação. Os critérios de inclusão e exclusão encontram-se discriminados nas tabelas 1 e 2.
Desenho
Consistiu num estudo prospetivo, com um pe- ríodo de follow-up de seis meses, com o objeti- vo de comparar os resultados de três interven- ções terapêuticas IA em doentes com OA do joelho, nomeadamente injeção IA de AH, PRP e BoNT-A. Todos os doentes assinaram consenti- mento informado. Os doentes foram distribuídos por quatro grupos: 1 – injeção subcutânea de 2 ml de lidocaína a 2%; 2 – injeção IA de AH; 3 – injeção IA de PRP; 4 – injeção IA de BoNT-A. A alocação dos doentes aos grupos foi realizada de forma consecutiva pela ordem previamente mencionada. Os doentes foram instruídos a não iniciar outras terapêuticas durante o período de estudo, nomeadamente medicação, fisioterapia ou ortóteses, contudo, caso já efetuassem uma toma regular de medicação sintomática (parace- tamol, opioides minor ou AINE: Anti-inflamatório
T. Rodrigues, et al.: Eficácia da BoNT-A na OA do Joelho Tabela 1. Critérios de inclusão
Critérios clínicos do American College of Rheumatol para OA do joelho
Idade > 45 anos
Kellgren-Lawrence grau II-III (classificação radiológica) Dor ≥ 3 meses
Dor ≥ 4/10 (escala visual analógica)
Tabela 2. Critérios de exclusão
História prévia de injeção intra-articular
Índice de massa corporal (IMC) > 35 kg/m2 Kellgren-Lawrence grau I ou IV
Alergia conhecida à BoNT-A
Artrite inflamatória
Neuropatia periférica
Coagulopatias ou uso de anticoagulantes orais
não), podiam continuar a medicação em doses iguais durante o tempo de estudo.
Intervenção
Os doentes no grupo 1 foram submetidos a
uma injeção subcutânea de 2 ml de lidocaína a
2%. No grupo 2, os doentes foram injetados
com AH (Synocrom Forte®), elevado peso mo-
lecular, 4 ml. No grupo 3, os doentes foram in-
jetados com PRP, segundo o protocolo Prolo-
®
30Kit , com colheita de sangue autólogo,
centrifugação única a 3200 rpm durante cinco minutos, obtendo-se 2 ml de PRP, pobre em leucócitos, com concentração de plaquetas cin- co a sete vezes a baseline do doente, e sem ativação externa. Por último, os doentes no gru- po 4 foram injetados com 100 unidades de BoNT-A, diluída em 2 ml de solução salina a 0,9%. A injeção IA foi realizada em todos os doentes pelo mesmo profissional e recorrendo à mesma abordagem, infrapatelar lateral, con- forme referências anatómicas.
Medidas de outcome
A informação clínica de base incluía os seguin-
tes parâmetros: idade, género, altura, peso, índi-
ce de massa corporal (IMC), amplitudes articula-
res do joelho, presença/ausência de derrame
articular do joelho e exame neurológico sumário.
A classificação radiológica de Kellgren-Lawrence
foi determinada através de radiografia ântero- -posterior do joelho em carga (Tabela 3). A inten-
sidade da dor foi avaliada através da escala nu-
mérica visual (VNS) e a capacidade funcional foi 33
DOR