Page 33 - 2018_03
P. 33

Dor (2018) 26   Estimulação Periférica: Mecanismos, Aplicação Clínica e Limitações Rita Regufe1, Daniela Rosinha1, Joana Tinoco1, Joana Azevedo2 e Jorge Cortez3  Resumo A estimulação periférica, nos últimos 50 anos, tem vindo a desenvolver-se como modalidade analgésica, integrando a abordagem de diversos quadros de dor crónica de difícil tratamento. Desde uma melhor com- preensão dos seus mecanismos de ação e neuromodulação ao desenvolvimento de equipamento mais adequado, aumentando a sua segurança, vão surgindo mais estudos que demonstram um benefício da sua utilização em doentes selecionados. Este artigo resume os mecanismos de ação, indicações, seleção de doentes, evidência publicada, bem como limitações e complicações possíveis das diferentes modalidades de estimulação periférica: estimulação de nervos periféricos, estimulação subcutânea periférica de campo e transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS). Palavras-chave: Estimulação periférica. Neuromodulação. Dor crónica. Estimulação de nervos periféricos. Estimulação subcutânea periférica de campo. Transcutaneous electrical nerve Stimulation. Abstract Peripheral stimulation, for the past 50 years, has been developing as an analgesic modality, integrating the approach of several cases of chronic pain, which are difficult to treat. From a better comprehension of its mechanisms and neuromodulation, to the development of more adequate equipment, increasing its security, more studies are emerging that show a benefit of its use in selected patients. This paper summarizes the mechanisms of action, indications, patient selection, published evidence, as well as limitations and possible complications of different modalities of peripheral stimulation: peripheral nerve stimulation, subcutaneous peripheral nerve stimulation and Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS). (Dor. 2018;26(3):32-9) Corresponding author: Rita Regufe, rfregufe@hotmail.com Key words: Peripheral stimulation. Neuromodulation. Chronic pain. Peripheral nerve stimulation. Subcutane- ous peripheral nerve stimulation. Transcutaneous electrical nerve stimulation. Introdução A estimulação do sistema nervoso surge nas últimas décadas como uma modalidade com di- versas aplicabilidades, desde a utilização como monitorização, através da estimulação de nervos periféricos para avaliação do bloqueio neuro- muscular durante a anestesia, à terapêutica, como é o caso da implantação de estimuladores cerebrais profundos para o tratamento de doen- ças do movimento (distonias, doença de Parkin- son, tremor essencial). 1Interno de Formação Específica 2Assistente Hospitalar 3Assistente Hospitalar Graduado Serviço de Anestesiologia Hospital São Bernardo, Centro Hospitalar de Setúbal Setúbal O início do desenvolvimento da estimulação periférica aplicada à dor crónica surge em 1965, com a publicação por Pat Wall e Ron Melzack, na revista Science da Teoria do Portão (Gate Control Theory), que faz a primeira descrição de como a transmissão de um estímulo doloroso pode sofrer uma modulação tanto a nível da medula espinhal, desencadeada pela estimula- ção de fibras sensitivas A-β, como a nível cere- bral através de sistemas descendentes com controlo sobre o input sensorial1. Com esta teo- ria, são desenvolvidos estudos e começam a surgir conceitos de plasticidade nos mecanis- mos de transmissão periférica e central e da nossa capacidade de atuação a nível de alguns desses mecanismos. Apesar da teoria de Wall e Melzack se focar em alguns mecanismos de modulação a nível central (medula espinhal e cerebral), hoje com- preendemos um pouco melhor a complexidade desses mecanismos de plasticidade neuronal e  32 E-mail: rfregufe@hotmail.com DOR 


































































































   31   32   33   34   35