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Dor (2018) 26 mediadas pelo aumento dos sintomas de de- pressão e ansiedade. Em suma, todos estes fa- tores e comorbilidades estão associados, poden- do reforçar-se mutuamente. Do mesmo modo, De la Vega, et al.16 documentaram a associação entre maior intensidade de DC e pior qualidade de sono, sugerindo que a relação é bidirecional e que esforços para melhorar qualquer um dos aspetos irão contribuir para a melhoria do outro. No estudo Noel, et al.30 mostra-se que a DC na adolescência está relacionada com maiores taxas de distúrbios de ansiedade e depressivos na idade adulta, o que mostra o impacto nega- tivo na qualidade de vida a longo prazo. No entanto, já na adolescência, os indivíduos com DC reportavam mais sintomas de ansiedade e depressivos, pior qualidade de sono e pior saú- de no geral, revelando também implicações a curto prazo. O estudo de McLaughlin, et al.31 que se de- bruçou sobre a associação entre exposição a violência e desenvolvimento de DC, também do- cumentou a associação com desenvolvimento precoce de distúrbios mentais. Assim se reforça a hipótese destes serem uma comorbilidade da DC pediátrica e de também contribuírem para o seu desenvolvimento. Evolução da prevalência da dor crónica em Portugal Por fim, interessa ter uma ideia da evolução da prevalência da DC em Portugal ao longo do tempo. Mais uma vez, não existem dados exclu- sivos para a população pediátrica mas, sim, para a população com 15 anos ou mais. No in- quérito nacional de saúde de 2005/2006 (50), a DC era a segunda doença crónica mais preva- lente, depois da hipertensão, com 16% a par com a doença reumática. Mais recentemente, no inquérito nacional de saúde de 201417 não são apresentados resultados para a prevalência da DC não específica, no entanto, temos como doença crónica mais prevalente as “Dores lom- bares ou outros problemas crónicos das costas” com 32,9%, que ultrapassou a hipertensão ago- ra encontrada em segundo lugar. Depois da hi- pertensão, a doença crónica mais prevalente são “Dores cervicais ou outros problemas cróni- cos do pescoço” com 24,1% igualando a preva- lência das artroses, doença que também causa DC. Assim sendo, podemos inferir o aumento da prevalência da DC neste intervalo de tempo, o que vai ao encontro dos resultados obtidos por Azevedo1, em 2013, que revelaram uma preva- lência da DC não específica de 36,7%, muito superior aos 16% de 2005/2006. Conclusões e considerações finais O presente estudo teve como principal objeti- vo contribuir para a caraterização epidemiológi- ca da dor crónica pediátrica em Portugal, reu- nindo também outros conhecimentos a ela 30 associados. Os dados obtidos confirmam a hipótese de que a DC em idade pediátrica é muito prevalen- te tanto em Portugal como nos outros países, dos quais se analisaram estudos. Deste modo, é prioritário adotar estratégias que permitam o seu tratamento, de modo a reduzir o seu impac- to na população pediátrica, as suas comorbili- dades e as consequências a longo prazo, isto é, na idade adulta. Os resultados obtidos indicam que outra ques- tão relevante é o subdiagnóstico da DC pediá- trica, que acontece quer pelos doentes não con- sultarem um médico, e até se automedicarem, quer pela errada noção dos profissionais de saúde acerca prevalência da DC pediátrica. O subdiagnóstico poderá levar ao subtratamento ou ao tratamento inadequado. Os resultados apontaram também que, após o diagnóstico de DC, deve-se investigar a exis- tência de outras comorbilidades como insónia, depressão ou ansiedade, pois a relação entre as várias patologias tende a ser mutuamente causal e investir em terapêutica nas várias vertentes e terá um efeito sinérgico melhorando a qualidade de vida dos utentes nos diferentes aspetos. O mesmo deve ser feito quanto a fatores de risco como stress, pressão académica e violência. As principais limitações deste estudo pren- dem-se com a heterogeneidade dos estudos quanto à definição de DC pediátrica utilizada, metodologia adotada, tipos e localização de dor investigadas, restrita localização geográfica dos estudos, leque reduzido de idades e baixo ta- manho das amostras. São, por isso, necessários estudos de âmbito nacional, que incluam crian- ças das diversas faixas etárias. Curiosamente, com a pesquisa feita em fontes nacionais, ob- servou-se que existem vários estudos sobre a DC pediátrica realizados na área da psicolo- gia22,38,46,51,52, debruçando-se sobre o impacto psicológico ou estratégias de coping. Bibliografia 1. Azevedo LF, Costa-Pereira A, Mendonça L, Dias CC, Castro-Lopes JM. A population-based study on chronic pain and the use of opi- oids in Portugal. Pain. 2013;154:2844-52. 2. Haraldstad K, Sorum R, Eide H, Natvig GK, Helseth S. Pain in children and adolescents : prevalence, impact on daily life, and parents ’ perception, a school survey. Scand J Caring Sci. 2011;25(1):27-36. 3. Merskey H, Bogduk N. IASP Task Force on Taxonomy Part III: Pain Terms, A Current List with Definitions and Notes on Usage. IASP Task Force Taxon \[Internet\]. 2011;209–14. Disponível em: http:// www.iasp-pain.org/Content/NavigationMenu/GeneralResourceLinks/ PainDefinitions/default.htm#Pain 4. Treede R-D, Rief W, Barke A, Aziz Q, Bennett MI, Benoliel R, et al. 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