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Dor (2018) 26 da sensibilidade na medula espinhal e cérebro. Tem como pré-requisito a lesão nervosa cirúr- gica, contribuindo também mecanismos ainda pouco esclarecidos que levam à ocorrência de potenciais de ação espontâneos nos nervos periféricos lesados e vizinhos, sensibilização das vias centrais e expressão alterada dos ge- nes e mediadores químicos da dor2. Uma ca- racterística da dor neuropática é a associação paradoxal entre hipoestesia e hipersensibilida- de, que se traduz clinicamente por alodinia e hiperalgesia8. Porém, a dor crónica é expressa num contex- to fisiológico, genético e psicológico que contri- bui para a conversão da atividade somatossen- sorial numa experiência dolorosa, assim como para a definição da amplitude e reação a essa sensação8. Epidemiologia e fatores de risco As teorias acerca do desenvolvimento da dor crónica seguem atualmente o modelo biopsicos- social, em que a dor é considerada como sendo o resultado da interação entre variáveis biológi- cas e psicossociais8. O sexo feminino, por si só, é um fator de risco para o desenvolvimento de DCPO e de níveis mais intensos de dor crónica5, assim como a existência de níveis elevados de ansiedade e queixas álgicas previamente à intervenção cirúr- gica3,9,10. A incidência de DCPO não parece di- ferir consoante a raça ou grupo étnico da popu- lação11. Almeida, et al., em 2002, constataram que, de uma população de mulheres com dor crónica pélvica, 67% tinham uma história prévia de ce- sariana12. Desde então, vários estudos retrospe- tivos e prospetivos têm sido publicados acerca da incidência e fatores de risco para dor crónica pós-cesariana. Um dos primeiros artigos sobre dor crónica pós-cesariana foi publicado por Nikolajsen, et al. em 2004. Foi feito um estudo retrospetivo sob a forma de questionário a 220 mulheres submeti- das a cesariana e verificou-se uma incidência de DCPO de 18,6% ao fim de três meses e de 12,3% após 10 meses. Em 5,9% das mulheres tratava-se de um problema que interferia signifi- cativamente na sua qualidade de vida13. Sng, et al. avaliaram a incidência de dor cró- nica na população asiática após cesariana sob bloqueio subaracnóideo e Patient Controlled Analgesia no pós-operatório, e reportaram uma incidência de 9,2%9. Cançado, et al. reportaram uma incidência de DCPO de 11,44% após três meses de cesariana, sob raquianestesia e analgesia sistémica inter- mitente pós-operatória. Não foram observadas relações com significado estatístico entre DCPO e variações na técnica cirúrgica, nomeadamen- te encerramento do peritoneu, exteriorização do 16 útero e utilização de fórceps3. Kainu, et al. num estudo retrospetivo, sob a forma de questionário, avaliaram 600 mulheres submetidas a parto vaginal ou cesariana. Após um ano do procedimento, observaram maior pre- valência de DCPO na população submetida a cesariana comparativamente ao parto vaginal (18 vs. 10%)10. No entanto, Eisenach, et al., num estudo prospetivo em 2008, avaliaram 939 mu- lheres grávidas submetidas a parto vaginal ou cesariana e não encontraram diferenças signifi- cativas na prevalência de dor persistente entre as duas populações ao fim de oito semanas (10 vs. 9,2%)5. Vários trabalhos relacionaram uma maior inci- dência de DCPO com a utilização de anestesia geral em oposição à anestesia do neuroeixo4,13. O grau de lesão tecidual na cirurgia está in- discutivelmente relacionado a uma maior inci- dência de DCPO14. Contudo, a grande variabili- dade interindividual na incidência de DCPO após procedimentos cirúrgicos semelhantes e com técnicas padronizadas sugere que existem outros fatores que contribuem para esta variabi- lidade. Uma maior intensidade da dor aguda no pe- ríodo pós-operatório foi associada a maior inci- dência de DCPO em todos os estudos9,10,13, sendo este o fator com o maior valor preditivo de DCPO e depressão7,14. Contudo, é ainda dis- cutível se se trata de uma relação causal ou se simplesmente os indivíduos mais suscetíveis ao desenvolvimento de dor aguda são também mais suscetíveis ao desenvolvimento de dor cró- nica2. O controlo da dor aguda pós-parto nas puérperas acarreta algumas considerações. Por um lado, é necessária uma recuperação rápida para que a mãe possa fornecer os cuidados ao recém-nascido (RN), devendo ser evitados fár- macos que alterem a capacidade de deambula- ção e a consciência. Por outro lado, deve ser tido em conta que os fármacos utilizados podem afetar o RN através da amamentação4. Sendo este o fator independente que mais influencia o desenvolvimento de dor crónica, nas mulheres submetidas quer a parto vaginal quer a cesaria- na, a analgesia no período pós-parto deverá ter um enfoque particular na abordagem da puér- pera. Impacto psicossocial Relativamente ao impacto na vida quotidiana, cerca de metade das mulheres com DCPO refe- re que a dor interfere com as atividades de vida diária, influenciando negativamente o humor e a qualidade do sono5. Este impacto na vida da mulher pode comprometer a sua capacidade de lidar com os múltiplos eventos de tensão que atravessa após o parto. A dor crónica e a depressão coexistem fre- quentemente5. A depressão pós-parto é uma complicação que afeta 8-15% das mulheres, in- fluenciando quer a saúde materna quer a saúde DOR