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Dor (2018) 26
  Editorial
Sílvia Vaz Serra
Olá.
Esta ausência foi longa. O motivo não foi
a escassez de assuntos nem a relevân- cia de temas pertinentes a abordar. E é isso que nos traz aqui, a este espaço de troca e partilha de experiências.
«Treat the pain despite the brain», título muito sugestivo de uma excelente revisão bibliográfi- ca. É do conhecimento de todos que o AVC constitui, a nível global, a segunda causa de morte e em Portugal tem a incidência anual es- timada de 15.208 eventos, apresentando entre 1 a 2% destes doentes dor neuropática central. A grande variabilidade de sintomas, as comorbili- dades e os défices sequelares na cognição e comunicação dificultam o diagnóstico. O não tratamento repercute-se no aumento da fadiga, no atraso na reabilitação, nas alterações do sono, no humor, na inserção social, levando ao aumento da mortalidade a longo prazo e sobre- tudo numa diminuição acentuada da qualidade de vida. Os autores fazem ainda a caraterização dos doentes com esta patologia avaliados no Centro Multidisciplinar de Dor do seu hospital – Garcia de Orta –, sublinhando a necessidade de mais estudos aleatorizados para determinação da melhor abordagem terapêutica e da maior sensibilização dos profissionais de saúde para a identificação desta entidade e para o seu tra- tamento mais precoce.
Em seguida, segue-se a Carta ao Editor sobre um instrumento para rastreio e validação do im- pacto da Dor Crónica, em particular um questio- nário: Brief Pain Inventory (short form) e a sua Resposta. Esta forma de diálogo é pouco co- mum entre nós e penso que deveria ser mais incentivada. Não vai querer perder, estou certa, e poderá ser fonte de inspiração para outras questões pertinentes.
No artigo subsequente, os autores analisam, retrospetivamente, a eficácia, a segurança e a simplicidade do bloqueio do gânglio ímpar rea- lizado em doentes com dor crónica oncológica pélvica e perineal na Unidade de Dor do Institu- to Português de Oncologia do Porto. Estas situa- ções álgicas apresentam habitualmente um forte componente visceral, o que as torna de mais
4 difícil controlo, sendo os bloqueios de gânglios
simpáticos uma excelente opção terapêutica, quer na redução da intensidade da dor quer na redução do consumo de opioides. Os colegas realçam a importância da criteriosa seleção dos doentes, no sentido de melhorar os resultados obtidos com o bloqueio e a necessidade, recor- rente, de mais estudos prostetivos aleatorizados e com amostras maiores.
A dor persistente pós-operatória está na or- dem do dia, e bem, sendo descrita como uma complicação pós-operatória de cirurgias como a hernioplastia inguinal, a mastectomia, a cole- cistectomia laparoscópica e a amputação do membro inferior, variando entre 5 e 50% – a sua magnitude e a importante repercussão negativa na qualidade de vida dos doentes justificam a atenção que lhe começa a ser devida. Neste didático artigo, a partir de um caso clínico, os autores fazem uma extensiva revisão bibliográfi- ca tendo por base a dor persistente pós-opera- tória e a dor persistente após hernioplastia in- guinal. Elencam várias importantes conclusões, das quais sublinharia a importância da preven- ção e a identificação precoce dos doentes em risco, assim como do seu tratamento. A aborda- gem terapêutica é considerada um desafio, atri- buindo à terapia cognitivo-comportamental um papel positivo.
O tema abordado no próximo artigo tem por base a síndrome de cirurgia falhada de coluna, uma entidade frequente e responsável por ele- vado impacto social, económico e diminuição da qualidade de vida destes doentes. Os colegas apresentam um caso clínico – dor paravertebral dorsal severa, bilateral de caraterísticas mistas –, em que a opção terapêutica utilizada foi o bloqueio ecoguiado do eretor da espinha, dis- sertando sobre a técnica, as vantagens e des- vantagens do bloqueio, assim como indicações da referida técnica analgésica. A partilha é um instrumento essencial para o conhecimento e avanço nas opções terapêuticas e no cuidar melhor dos nossos doentes.
Este próximo artigo aborda, uma vez mais, a dor crónica pós-operatória e, em particular, a síndrome dolorosa pós-mastectomia. A preva- lência de dor crónica em doentes submetidas a mastectomia estima-se entre 25 e 60% – núme- ros brutais! Seria quase inútil falar no impacto que esta situação ocasiona na qualidade de
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