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C. Moreira, et al.: Dor Crónica Pediátrica. Experiência de uma Consulta Multidisciplinar em Portugal
bullying in 34.6% and previous exhaustive examination of complementary tests in 57.8% of the cases, which is in line with current literature and the need for a multidisciplinary approach.
It is necessary to implement new measures for the identification and treatment of Chronic Pain in Portugal, as well as to stimulate the creation of new multidisciplinary groups that allow rapid control of pain and a return to activity in the shortest time possible. (Dor. 2018;26(1):30-3)
Corresponding author: Carolina Moreira, carolinafgmoreira@gmail.com
Key words: Chronic Pain. Pediatrics. Multidisciplinary approach. Pain management.
Introdução
A dor é tanto uma sensação como uma per- ceção. Esta perceção é real quer o dano esteja a ocorrer no presente ou tenha ocorrido no pas- sado. No grupo etário pediátrico, é consensual que a incorreta identificação e tratamento da dor em tempo útil poderá acarretar consequências nefastas a médio e longo prazo. A dor negligen- ciada e não tratada causará modulação dos cir- cuitos da perceção dolorosa na vida adulta1.
Está demonstrado através de meta-análises baseadas em exames imagiológicos e neurofi- siológicos realizados durante episódios de dor aguda, que mais do que a ativação de um «cen- tro de dor» cerebral específico, ocorre ativação de múltiplas áreas corticais e subcorticais num padrão único, dependente da perceção doloro- sa individual. Estes dados levaram os investiga- dores nesta área a afastarem-se de um conceito neuroanatómico universal, em direção a um pa- drão único específico, como uma «impressão digital» dos circuitos neuronais de dor, construí- da ao longo do desenvolvimento do próprio in- divíduo1-4.
A corroborar esta ideia, a investigação atual na área da Neurobiologia demonstrou que as vias nervosas ascendentes relacionadas com a estimulação nociceptiva estão presentes na vida fetal desde as 20 semanas de gestação, en- quanto as vias de controlo descendente têm um desenvolvimento mais tardio, resultando numa hipersensibilidade dolorosa nos recém-nascidos pré-termo.5 Estímulos nóxicos durante este pe- ríodo vulnerável de desenvolvimento e de gran- de plasticidade neuronal poderão predispor a alterações epigenéticas com consequências imprevisíveis a longo prazo, que afetarão os cir- cuitos cerebrais responsáveis pela modulação da dor e a reação à mesma na infância e mesmo na idade adulta6. Este fenómeno torna-se mais preocupante se considerarmos os recém-nasci- dos pré-termo com internamentos em unidades de cuidados intensivos neonatais e exposição frequente a procedimentos dolorosos. Com o crescimento e desenvolvimento da criança, ten- demos a desvalorizar este antecedente de dor aguda não controlada, hoje reconhecido como um importante fator de risco para o desenvolvi- mento posterior de quadros álgicos crónicos5-7.
Estima-se que a dor crónica afete 20 a 35% das crianças e adolescentes a nível mundial8, sendo que os dados relativos à sua incidência e prevalência na realidade portuguesa são ainda parcos e inconsistentes9,10.
A sua abordagem tem evoluído nos últimos anos, absorvendo as mais recentes evidências que consideram a dor crónica como uma expe- riência resultante da interação entre fatores bio- lógicos, emocionais, comportamentais, cogniti- vos e sociais, cujo tratamento deverá ser multimodal. No entanto, apesar do conhecimen- to exponencial verificado nesta área nas últimas décadas, verifica-se ainda uma dissociação en- tre a informação existente na literatura e a sua efetiva aplicação na atividade clínica11, sendo frequente observarmos crianças polimedicadas, seguidas por múltiplas especialidades sem uma abordagem concertada e, muitas vezes, sem associação efetiva com o contexto emocional, familiar e de relação com os pares.
Para esta dificuldade em integrar a investiga- ção e a clínica contribui, em parte, a falta de consensos internacionais que guiem a criação e estruturação de programas de tratamento de dor crónica em idade pediátrica12,13.
Tendo em conta estas premissas, foi criada uma consulta multidisciplinar de dor crónica pe- diátrica no Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) – Centro Hospitalar do Porto, com o con- tributo da Fisiatria, Pediatria, Neuropediatria, Psi- quiatria, Psicologia e Anestesia.
A consulta decorre semanalmente com a pre- sença das especialidades acima referidas com o apoio de assistente social, sempre que neces- sário.
Até ao momento em que se realizou este tra- balho podiam ser apenas referenciadas crianças a nível interno da instituição, quer através de outra consulta externa ou do serviço de urgência.
Este trabalho tem como objetivo descrever a atividade durante o primeiro ano de funciona- mento desta consulta, e a análise dos resultados obtidos numa perspetiva de otimização futura.
Material e métodos
Foi efetuada uma análise retrospetiva de todos
os processos de doentes observados durante o
primeiro ano de atividade da consulta de dor 31
DOR